QUEM COMPRA, QUEM SE VENDE E QUAL É O PREÇO?

Bali Chionga lançou uma bomba atómica contra Adalberto da Costa Júnior ao insinuar que este teria sido “comprado”. O comentador da TV ZIMBO usou a Lei Universal do Espelho para justificar a sua afirmação. “A Lei Universal do Espelho afirma que aquilo que vemos e criticamos nos outros é frequentemente um reflexo de nossas próprias características ou falhas.” Quem acusa o outro é porque ele é aquilo que acusa os outros. Bali Chionga não é nenhum irresponsável para fazer uma insinuação dessas sem ter evidências.

Por Malundo Kudiqueba

As declarações pouco convencionais de Bali Chionga vieram aumentar ainda mais as desconfianças sobre Adalberto da Costa Júnior. Quem acompanha o meio político angolano sabe que as desconfianças não são novas e Bali Chionga só veio dizer aquilo que todos pensam mas não têm coragem de dizer publicamente. Essa afirmação veio deixar os angolanos numa situação de prevenção e reflexão. A acusação de que o presidente da UNITA foi “comprado” sugere que ele teria sido corrompido ou influenciado por interesses externos, financeiros, políticos, para mudar as suas posições, comportamentos ou ganhar dividendos.

Por outro lado Alberto Pakisse criticou igualmente Adalberto da Costa Júnior alertando que a perseguição a Isaías Samakuva e de outras figuras importantes dentro da UNITA não é uma estratégia política saudável. O partido deve-se focar em construir uma alternativa sólida para Angola, em vez de se envolver em conflitos pessoais. É preciso aprender a dialogar e a considerar diferentes perspectivas. Mais adiante Alberto Pakisse criticou a intolerância política e o facto de Adalberto da Costa Júnior não escutar conselhos. Ele considera essa postura prejudicial para a UNITA e para o processo democrático em Angola. Os dois comentadores da TV ZIMBO falaram de uma ditadura interna dentro da UNITA. O comentador reconheceu a existência de uma ala dura dentro do partido.

Voltando às afirmações de Bali Chionga, devo confessar que Adalberto da Costa Júnior deve estar consciente de que as suas práticas e retóricas podem ter efeitos reversos, reflectindo sobre sua própria conduta e a percepção pública das suas intenções e acções. A retórica de acusação pode ser uma faca de dois gumes, onde a falta de evidências e a ênfase em ataques podem resultar em uma crise de credibilidade num exame mais detalhado das próprias práticas do líder. A estratégia de Adalberto da Costa Júnior acusar tudo e todos pode ser visto como uma forma indirecta de expor suas próprias vulnerabilidades e práticas. Fazer acusações contra pessoas é uma ferramenta política que pode colocar em questão a ética dos adversários, mas também pode fazer com que a própria integridade de Adalberto da Costa Júnior seja examinada com maior rigor e de forma mais crítica.

Diferenças nos estilos de liderança entre Isaías Samakuva e Adalberto da Costa Júnior:

Durante o governo de José Eduardo dos Santos, Isaías Samakuva adoptou uma abordagem diplomática e conciliadora, estabelecendo um canal de comunicação aberto e respeitoso com o presidente. Essa postura ajudou a reduzir tensões e a promover um ambiente político mais estável. A boa relação entre Samakuva e dos Santos contribuiu para a estabilidade política, permitindo negociações e compromissos que beneficiaram tanto a UNITA quanto o governo. Com a chegada de João Lourenço ao poder, Isaías Samakuva manteve a sua abordagem diplomática e cooperativa, esforçando-se para construir um relacionamento positivo com o novo presidente.

Isaías Samakuva. Estilo de consenso e colaboração

Características;
Construção de Pontes: Samakuva é conhecido pela sua habilidade de estabelecer diálogos e construir pontes com outras figuras políticas.
Busca por Consenso: Ele buscava consensos, muitas vezes através da negociação e da diplomacia.
Relações Positivas: Mantinha boas relações com o José Eduardo dos Santos e hoje faz o mesmo com o João Lourenço, o que facilitava a comunicação e a cooperação entre os partidos.
Colaboração: Focado em trabalhar junto com o governo para alcançar objectivos comuns, promovendo uma política de cooperação.
Impacto. Estabilidade política: A abordagem de Samakuva contribuiu para um ambiente político mais estável e menos conflituoso.
Confiança e respeito: A sua capacidade de diálogo e colaboração aumentou a confiança e o respeito entre os partidos políticos.

Adalberto da Costa Júnior. Estilo de confrontação, guerrilha política e ” política de terra queimada”

Características.

Política de confrontação: Adalberto da Costa Júnior tem adoptado uma postura mais de confronto, questionando e criticando abertamente o governo.
Estratégia de “terra queimada”: O seu estilo envolve confrontos directos e uma atitude mais agressiva em relação às políticas do governo.
Mobilização da base: Foca na mobilização dos eleitores e no fortalecimento da base do partido através de uma retórica mais combativa.
Impacto. Tensões elevadas: A política de confrontação pode aumentar as tensões entre o governo e a oposição.
Atenção dos membros: A abordagem agressiva tende a atrair mais atenção do povo e a galvanizar os apoiantes do partido.
Desafios ao Governo: Cria uma pressão constante sobre o governo para responder às críticas e ajustar as suas políticas.

Qualidade de Samakuva: Relações positivas com João Lourenço e José Eduardo dos Santos.

Habilidade diplomática: A habilidade de Samakuva em manter boas relações com os presidentes angolanos, tanto João Lourenço quanto José Eduardo dos Santos, é uma qualidade notável. Isso demonstra sua capacidade de diálogo e negociação.
Facilitador de diálogo: As suas boas relações ajudaram a facilitar diálogos importantes e a promover a estabilidade política no país.

A transição de liderança na UNITA trouxe à tona dois estilos distintos de fazer política.

Isaías Samakuva: Focado na construção de pontes, busca por consenso e colaboração, promovendo um ambiente político mais estável e confiável.
Adalberto da Costa Júnior: Adoptando uma política de confrontação e “terra queimada”, mobilizando a base do partido e desafiando directamente o governo.

Ambos os estilos têm os seus méritos e desafios. A abordagem de Samakuva trouxe estabilidade e confiança, enquanto a de Adalberto da Costa Júnior anima a base do partido e mantém o governo sob constante vigilância. A qualidade de Samakuva em manter boas relações com figuras chave do governo é uma característica que contribuiu significativamente para a política angolana, destacando a importância do diálogo e da diplomacia.

Conclusão: Líderes políticos devem estar cientes de que as suas estratégias de acusação podem reflectir as suas próprias práticas. Adalberto da Costa Júnior deve estudar o exemplo histórico de Richard Nixon e o Caso Watergate. O ex-presidente dos EUA, Richard Nixon, inicialmente acusou os seus adversários de conspirações, mas a investigação revelou práticas corruptas na sua própria administração. Ao acusar pessoas de forma indiscriminada (eu sou um deles) de serem comprados, Adalberto da Costa Júnior pode inadvertidamente expor a si mesmo acusações semelhantes.

A percepção de que quem acusa pode também ser culpado é uma dinâmica comum na política. “O político que aponta o dedo pode acabar com três dedos apontados para si mesmo. A retórica de acusação deve ser manejada com cuidado e responsabilidade. Quando um líder político faz acusações graves sem evidências concretas, isso pode resultar numa crise de credibilidade, onde o público começa a questionar a própria integridade do acusador.

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